Não poderia haver cenário melhor do que o Wanda Metropolitano, o estádio mais moderno da LaLiga, para sediar o Atlético Madrid-Barcelona e estabelecer o novo recorde mundial de espectadores para um jogo de futebol feminino entre clubes: 60.739. Ou o RCDE Stadium, do Espanyol, outro grande estádio a ser palco de uma partida profissional entre mulheres primeira vez, superando a marca de 20.000 pessoas. Dias históricos que refletem os novos tempos do futebol feminino, ainda que haja um longo caminho a percorrer em termos de estrutura, patrocínios e cobertura da mídia. O que aconteceu pela primeira vez nos estádios do Wanda ou do Cornellà-El Prat deve tornar-se a norma em um futuro próximo, e seria fundamental que grandes clubes como o Barcelona e o Real Madrid também dessem o devido valor ao futebol feminino. Todo esporte precisa criar seus próprios ícones, seus mitos e suas lendas, e ter referências.
Esther González (Atlético de Madrid), Leia Ouahabi, Nataša Andonova (FC Barcelona) e Brenda Pérez (RCD Espanyol), atletas da Be Universal que jogaram as partidas mencionadas anteriormente, representam a jogadora moderna 50 anos depois de as primeiras mulheres aventureiras e rebeldes terem apostado na carreira, dando o pontapé inicial à história do futebol feminino na Espanha. Falamos do início dos anos 70 em Madri ou Barcelona, onde um jogo de mulheres era considerado exótico para um público cujos olhos só se acostumaram ao futebol masculino. As mulheres deixaram de viver o futebol na clandestinidade, e estádios como Camp Nou chegaram a ser anfitriões de alguns jogos do Barcelona no início da década, mais como folclore do que como esporte.
Os primeiros dados jornalísticos coletados a partir de jogos de futebol entre mulheres referem-se ao final do século XIX na Inglaterra, mas é na segunda década de 1900, com o vazio gerado pela Grande Guerra (1914-1918), que começamos a ter evidências de organização do futebol feminino nos países britânicos. Levou mais tempo para chegar à Espanha, sempre seguindo os passos dos movimentos de vanguarda. Somente em 1981 foi criada a Copa de la Reina, e em 1988 o primeiro campeonato da liga pela Federação Espanhola de Futebol (RFEF). O futebol feminino derrubou o próprio muro de Berlim.
O futebol feminino ainda seguia amador, mudando de nome, porém sem receber recursos. Primeiro foi chamado de “Divisão de Honra”, um nome mais adequado para futebol de base do que para futebol profissional, e depois a Superliga, embora não pudéssemos considerá-la muito super: somente clubes profissionais ou clubes com patrocinadores conseguiam aumentar o orçamento. O salto claro em direção à profissionalização vem somente após o patrocínio da Iberdrola, o apoio da LaLiga e a maior divulgação do esporte feminino nos últimos anos já nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, a maioria das medalhas foram conquistadas por mulheres, por exemplo.
De jogar clandestinamente a bater o recorde de espectadores no Wanda Metropolitano, ou chegar à final da UEFA Champions League (o FC Barcelona feminino joga em Budapeste em 18 de maio), foram longos 50 anos, um período de mudanças lentas, mas firmes no futebol feminino espanhol. A dedicação dos clubes, a profissionalização das jogadoras e a competitividade dos campeonatos marcarão, daqui para frente, o futuro de um esporte que já vive grandes momentos, embora, certamente, os melhores ainda estejam por vir.
Alberto Martinez Fernandez
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